Poesia jorge tomaz
domingo, 8 de setembro de 2013
2013
PROPRIEDADE
PRIVADA:
Tu
és propriedade privada
A
minha propriedade privada,
Tu
tens um cerco à volta
E
policias nos teus olhos.
Tu
estás no latifúndio do Diabo
A
porta que se abriu foi só de um lado,
Tu
és a minha terra
Tu
és o novo escravo.
O
mundo, é a minha grande empresa,
Tu
nasces, vives, morres nesta empresa,
Tu
és o teu coveiro
Não
tens lugar na mesa.
Tu
és só a limalha de um produto
Tu
és a minha morte anunciada,
Respiras
para ter salvo-conduto
A
tua devoção é seres mais nada.
Nasceste
pra ser anjo do consumo
Nasceste
um lambe pés, um lambe retos,
Nasceste
pra ver os filhos morrerem
Cercados
como tu de analfabetos.
Tu
és só uma produção de lixo
O
gado que nasceu, mas já sem vida,
Tu
vendeste a própria pele
Pra
comprar mais carne viva.
Tu
és a desintegração humana
Tu
és o meu berço, a minha cova,
Tu
és a própria mosca que se esmaga
A
sombra do enforcado e a corda.
Tu
és o homem que nunca duvida
Tens
camaras apontadas ao vizinho,
Acordas
com o teu cheiro a veneno
E
pagas pra poder morrer sozinho.
Tu
és a minha teia, a minha aranha,
A
velha sinfonia digital,
E
rezas pra que Deus nunca se esqueça
Da
tua praia privada de sol.

O REGRESSO:
Regressas à cama
De olhos escondidos,
Nos lençóis procuras
Uns braços esquecidos
Uns braços inúteis
Cansados e feridos,
Iguais aos que cresçam
Nos teus devolvidos.
Regressas à cama
E despes poemas,
Despertas poetas
Arrancas algemas
Carregas carroças
Rimando pra Leste
Até que as mãos caiam
E ela se veste
Até que não sonhes
E só adormeces.

sábado, 4 de fevereiro de 2012
AS 35 PASSADAS
O extraordinário espectáculo
da geometria dos rasgos perfeitos,
o balanço dos silêncios
reféns dos condominios fechados,
o abrupto despertar
da equação zero,
a hesitação das rugas
na indelicada nostálgia
das 35 passadas.
O desabafo cientifico
tornado queixume técnico,
o conta-gotas seco
pelo próprio veneno,
os amores que se contam
pelos dedos dos fantasmas,
a arquitectura possivel
da turbina reativa
a trinta e cinco passadas.
Mas eis que do sangue
o maior poema deles,
desagrafada da carne
a poesia toda,
a cirurgia das estrelas
em verbos desinfectados,
as casas dos poetas
pintadas com vinho.
Sobram só
lamas passadas.
Lamas que se arrancam das passadas.
( Dedicado à Mariana 05-11-2008).
da geometria dos rasgos perfeitos,
o balanço dos silêncios
reféns dos condominios fechados,
o abrupto despertar
da equação zero,
a hesitação das rugas
na indelicada nostálgia
das 35 passadas.
O desabafo cientifico
tornado queixume técnico,
o conta-gotas seco
pelo próprio veneno,
os amores que se contam
pelos dedos dos fantasmas,
a arquitectura possivel
da turbina reativa
a trinta e cinco passadas.
Mas eis que do sangue
o maior poema deles,
desagrafada da carne
a poesia toda,
a cirurgia das estrelas
em verbos desinfectados,
as casas dos poetas
pintadas com vinho.
Sobram só
lamas passadas.
Lamas que se arrancam das passadas.
( Dedicado à Mariana 05-11-2008).
sábado, 10 de dezembro de 2011
Canções(letras de músicas)
CAMINHO-DE-FERRO:
Um Homem tinha ferros na mente
para lhe arrancarem ideias e leis,
um Homem tinha mesmo à sua frente
bandos,corjas,loucos e reis.
Um Homem tinha o tempo contado
em cada grade contava mais tempo,
um Homem tinha ferros na mente
só que ninguém lhe lia o pensamento.
Foi concebido à nascença
para um mundo de alumínio,
mas sabia que o comboio
era de ferro e não vidro,
Um Homem tinha grades na mente
então dobrou-as e fez carris,
à meia lua no monstro de ferro
evaporou-se dos homens fabris.
À meia lua,no seu trem fantasma,
pelos carris,que fez peça a peça,
viu que o caminho era de ferro forjado
e ia outra vez dar à sua cabeça.
TREZE DIAS:
Treze dias chegam sem serem contados
uns eram silêncio, os outros estragados
Treze dias chegam sem ninguém ter escrito
a carta sem selo devolvida ao grito.
Treze dias chegam por entre cigarros
Agosto esquecido dos teus olhos claros,
Treze dias chegam de sítios distantes
Eu falava em passos e tu em mutantes.
Treze dias chegam de pisos fechados
E eu à tua volta com cem cadeados,
Treze dias chegam para sair daqui
Eu vejo-te ao longe a correr em ti.
Treze dias chegam ao final da linha
Eu a dar-te lume e tu sem cavilha,
Treze dias chegam de lugares incertos
Se quiseres voltar, eu fujo para perto.
A ÚLTIMA CEIA:
Cristo está numa casa de banho
do céu com a seringa na mão,
os apóstolos estão embriagados
Deus está do lado da razão.
A virgem Maria continua fiel
às joias,perfumes e fitas,
os anjos arrancam as asas aos loucos
e Deus cegou de uma vista.
As portas do céu foram arrombadas
por Judas,por Nietzsche,por Miller,
se Cristo já estava estendido no chão
São Pedro estava a ver um thriller.
A última ceia já está posta em cena
mas é estranho faltar Jesus Cristo,
os crentes devoram-lhe as carnes e o sangue
os restos deixaram para os bispos,
Os ossos de Cristo roídos por cima
da mesa da ùltima ceia,
do sangue nasceu a fé dos seus crentes
das carnes nasceu a igreja.
APUNKALIPSE NOW:
Deus fartou-se de Kant
Deus fartou-se de Nietzsche
Deus cansou-se de Cristo
e mandou baralhar
tudo aquilo que existe.
Deus já foi democrata
Deus já comunista
hoje é dono de um banco
e de lojas que vendem
artigos fascistas.
Deus antes de ser banqueiro
estava desempregado,
f oi então que assinou
um contrato individual de trabalho.
MARTA:
Marta nasceu entre as margens
de um rio que ninguém conhece,
ela é filha da coragem
ela é mãe das minhas preces.
Ela só detinha a chave
de uma esperança enjaulada,
ela só queria saber
onde é que o vento morava.
Dos cem homens que ela teve
todos eram assassinos,
então espalhou pelos cais
que eles eram os seus filhos.
Depois chamou-me soldado
de uma guerra inacabada,
como se eu trouxesse tudo
nuns olhos feitos de nada.
PATRÃO:
Tu és o meu patrão
Desenhas-me o destino
És quem me dá o pão
És quem me dá o vinho.
Trabalho toda a vida
Mas tú rezas por mim
Numa capela de ossos
Com piscina e com jardim.
Sabes que tenho em casa
Uma caçadeira,
Espero nunca te encontrar
Em noites de sexta-feira,
Sabes que tenho em casa
Uma caçadeira,
Qualquer dia o ordenado
É pago numa caveira.
Tú és o meu patrão
Desenhas-me a familia
És quem me dá o pão
És quem me dá a biblia.
Tú es o meu patrão
Dizes que sou da familia
Qualquer dia passo lá
Para beber um chá de tilias.
Sabes que tenho em casa
uma caçadeira,
espero nunca te apanhar
em noites de bebedeira.
Sabes que tenho em casa
uma caçadeira,
qualquer dia espero à porta
desfaço-te a mioleira.
Ohhhhh,Ohhhh,patrão
Ohhhhh,Ohhhh,cabrão.
ÀS VEZES BASTA UMA PEDRA:
De noite vais para o trabalho
Com olhos cheios de cio,
Embarcas num cacilheiro
Imaginas-te um navio.
Chegando à margem que aperta
Não distingues o vazio,
Às vezes basta uma pedra
Para mudar o rumo ao rio.
Trabalhas mais de dez horas
E o corpo não fraqueja,
Tirando a hora de almoço
Que esperas que não troveje.
Pergunta ao tempo que passa
Se a vela apaga o pavio?
Às vezes o dia encosta
A navalha contra o fio.
De noite sais do trabalho
Com os olhos de um navio,
Empurras o cacilheiro
Tal como ele empurra o frio.
Pergunta à margem que espera
Se quem espera é o vazio?
Às vezes basta uma pedra
Para mudar a cor do rio,
Às vezes basta uma pedra
Para mudar o nome ao rio,
Às vezes basta uma pedra
Para mudar o rumo ao rio.
SONO
BREVE:
Dorme enquanto eu abro a sepultura
E quando acordares eu já ceei,
Rega bem o sonho com ternura
A enxada velha já lá vém.
Dorme na tua cama de linho
Poisa a tua coroa no jardim,
Quando ouvires o som da terra a abrir
Sabes que dormiste bem assim
Sabes que dormiste sempre assim.
Raquel doce
Raquel
Senhora do meu
destino,
As velas estão
remendadas
Será que estás no
moinho?
Onde andaste tu
soldado
Por que guerras?
Por que estragos?
Adormecido nas
orlas
Dos jardins
envenenados.
Raquel doce
Raquel
As torres estão
vigiadas,
Há guardas onde
passei
As estradas estão
arrancadas.
Onde andaste
saltimbanco
Que não me
ouviste a crescer,
Essas velas
remendadas
Outro alguém as
fez mover.
SOLDADO:
Ah,como eu queria
ser soldado
Fazer filhos no Iraque,
Poder ser condecorado
Por ter morrido em combate.
Ah,eu nasci para ser soldado
Ir-me embora desta terra,
Com a espingarda ao meu lado
Com os olhos noutra guerra.
Ah,e quando a guerra acabar
Com a alma desgraçada,
Vou carregar novas armas
E voltar a ser soldado.
Ah,eu nasci para ser soldado
Ah,eu voltei para ser soldado.
MAL- ATADO:
Tenho os dentes do siso
A crescer
É por isso que tu
sentes
Que não consigo morder.
Tenho os dentes do siso
A rebentar,
É por isso que tu dizes
Que eu não consigo
ladrar.
Deixaste-me a cela
aberta
Deixaste-me mal atado.
Subscrever:
Mensagens (Atom)