domingo, 8 de setembro de 2013

2013


PROPRIEDADE PRIVADA:
 
 
 
Tu és propriedade privada
A minha propriedade privada,
Tu tens um cerco à volta
E policias nos teus olhos.
 
 
Tu estás no latifúndio do Diabo
A porta que se abriu foi só de um lado,
Tu és a minha terra
Tu és o novo escravo.
 
 
O mundo, é a minha grande empresa,
Tu nasces, vives, morres nesta empresa,
Tu és o teu coveiro
Não tens lugar na mesa.
 
 
Tu és só a limalha de um produto
Tu és a minha morte anunciada,
Respiras para ter salvo-conduto
A tua devoção é seres mais nada.
 
 
Nasceste pra ser anjo do consumo
Nasceste um lambe pés, um lambe retos,
Nasceste pra ver os filhos morrerem
Cercados como tu de analfabetos.
 
 
Tu és só uma produção de lixo
O gado que nasceu, mas já sem vida,
Tu vendeste a própria pele
Pra comprar mais carne viva.
 
 
Tu és a desintegração humana
Tu és o meu berço, a minha cova,
Tu és a própria mosca que se esmaga
A sombra do enforcado e a corda.
 
 
Tu és o homem que nunca duvida
Tens camaras apontadas ao vizinho,
Acordas com o teu cheiro a veneno
E pagas pra poder morrer sozinho.
 
 
Tu és a minha teia, a minha aranha,
A velha sinfonia digital,
E rezas pra que Deus nunca se esqueça
Da tua praia privada de sol.
 
 
 
 
 

 

 

O REGRESSO:
 
 
 
Regressas à cama
De olhos escondidos,
Nos lençóis procuras
Uns braços esquecidos
Uns braços inúteis
Cansados e feridos,
Iguais aos que cresçam
Nos teus devolvidos.
 
 
 
Regressas à cama
E despes poemas,
Despertas poetas
Arrancas algemas
Carregas carroças
Rimando pra Leste
Até que as mãos caiam
E ela se veste
Até que não sonhes
E só adormeces.
 
 

 

 

 

 

 

 

sábado, 4 de fevereiro de 2012

AS 35 PASSADAS

O  extraordinário espectáculo
da geometria dos rasgos perfeitos,
o balanço dos silêncios
reféns dos condominios fechados,
o abrupto despertar
da equação zero,
a hesitação das rugas
na indelicada nostálgia
das 35 passadas.


O desabafo cientifico
tornado queixume técnico,
o conta-gotas seco
pelo próprio veneno,
os amores que se contam
pelos dedos dos fantasmas,
a arquitectura possivel
da turbina reativa
a trinta e cinco passadas.

Mas eis que do sangue
o maior poema deles,
desagrafada da carne
a poesia toda,
a cirurgia das estrelas
em verbos desinfectados,
as casas dos poetas
pintadas com vinho.


Sobram só
lamas passadas.
Lamas que se arrancam das passadas.


( Dedicado à Mariana     05-11-2008).

sábado, 10 de dezembro de 2011

Canções(letras de músicas)

CAMINHO-DE-FERRO:




Um Homem tinha ferros na mente
para lhe arrancarem ideias e leis,
um Homem tinha mesmo à sua frente
bandos,corjas,loucos e reis.


Um Homem tinha o tempo contado
em cada grade contava mais tempo,
um Homem tinha ferros na mente
só que ninguém lhe lia o pensamento.


Foi concebido à nascença
para um mundo de alumínio,
mas sabia que o comboio
era de ferro e não vidro,


Um Homem tinha grades na mente
então dobrou-as e fez carris,
à meia lua no monstro de ferro
evaporou-se dos homens fabris.


À meia lua,no seu trem fantasma,
pelos carris,que fez peça a peça,
viu que o caminho era de ferro forjado
e ia outra vez dar à sua cabeça.















TREZE DIAS:

                      
                      
Treze dias chegam sem serem contados
 uns eram silêncio, os outros estragados
Treze dias chegam sem ninguém ter escrito                                                     
 a carta sem selo devolvida ao grito.
                     
  Treze dias chegam por entre cigarros
      Agosto esquecido dos teus olhos claros,
     Treze dias chegam de sítios distantes
        Eu falava em passos e tu em mutantes.
                      
      Treze dias chegam de pisos fechados
         E eu à tua volta com cem cadeados,
    Treze dias chegam para sair daqui
        Eu vejo-te ao longe a correr em ti.
                     
        Treze dias chegam ao final da linha
              Eu a dar-te lume e tu sem cavilha,
          Treze dias chegam de lugares incertos
            Se quiseres voltar, eu fujo para perto.














A ÚLTIMA CEIA:
 






   Cristo está numa casa de banho
       do céu com a seringa na mão,
         os apóstolos estão embriagados
         Deus está do lado da razão.


         A virgem Maria continua fiel
              às joias,perfumes e fitas,
             os anjos arrancam as asas aos loucos
          e Deus cegou de uma vista.


           As portas do céu foram arrombadas
               por Judas,por Nietzsche,por Miller,
               se Cristo já estava estendido no chão
               São Pedro estava a ver um thriller.


          A última ceia já está posta em cena
           mas é estranho faltar Jesus Cristo,
            os crentes devoram-lhe as carnes e o sangue
            os restos deixaram para os bispos,


          Os ossos de Cristo roídos por cima
         da mesa da ùltima ceia,
          do sangue nasceu a fé dos seus crentes
        das carnes nasceu a igreja.





APUNKALIPSE  NOW:             




Deus fartou-se de Kant
 Deus fartou-se de Nietzsche
                           Deus cansou-se de Cristo                           
 e mandou baralhar
   tudo aquilo que existe.


 Deus já foi democrata
    Deus já comunista
      hoje é dono de um banco
     e de lojas que vendem
      artigos fascistas.


  Deus antes de ser banqueiro
     estava desempregado,
        f oi então que assinou
      um contrato individual de trabalho.





MARTA:

 Marta nasceu entre as margens
      de um rio que ninguém conhece,
    ela é filha da coragem
         ela é mãe das minhas preces.


  Ela só detinha a chave
     de uma esperança enjaulada,
   ela só queria saber
     onde é que o vento morava.


   Dos cem homens que ela teve
   todos eram assassinos,
então espalhou pelos cais
   que eles eram os seus filhos.


 Depois chamou-me soldado
   de uma guerra inacabada,
    como se eu trouxesse tudo
    nuns olhos feitos de nada.









PATRÃO:
 
 
 
Tu és o meu patrão
                                       Desenhas-me o destino
                                        És quem me dá o pão
                                       És quem me dá o vinho.
                                        Trabalho toda a vida
                                        Mas tú rezas por mim
                                        Numa capela de ossos
                                      Com piscina e com jardim.


                                      Sabes que tenho em casa
                                        Uma caçadeira,
                                    Espero nunca te encontrar
                                      Em noites de sexta-feira,
                                     Sabes que tenho em casa
                                         Uma caçadeira,
                                   Qualquer dia o ordenado
                                      É pago numa caveira.


                                      Tú és o meu patrão
                                   Desenhas-me a familia
                                     És quem me dá o pão
                                     És quem me dá a biblia.
                                       Tú es o meu patrão
                                     Dizes que sou da familia
                                      Qualquer dia passo lá
                                  Para beber um chá de tilias.


                                    Sabes que tenho em casa
                                       uma caçadeira,
                                   espero nunca te apanhar
                                    em noites de bebedeira.
                                  Sabes que tenho em casa
                                       uma caçadeira,
                                 qualquer dia espero à porta
                                      desfaço-te a mioleira.

  Ohhhhh,Ohhhh,patrão
                                      Ohhhhh,Ohhhh,cabrão.




 
ÀS VEZES BASTA UMA PEDRA:
 
 
 
De noite vais para o trabalho
Com olhos cheios de cio,
Embarcas num cacilheiro
Imaginas-te um navio.
Chegando à margem que aperta
Não distingues o vazio,
Às vezes basta uma pedra
Para mudar o rumo ao rio.
 
 
Trabalhas mais de dez horas
E o corpo não fraqueja,
Tirando a hora de almoço
Que esperas que não troveje.
Pergunta ao tempo que passa
Se a vela apaga o pavio?
Às vezes o dia encosta
A navalha contra o fio.
 
 
De noite sais do trabalho
Com os olhos de um navio,
Empurras o cacilheiro
Tal como ele empurra o frio.
Pergunta à margem que espera
Se quem espera é o vazio?
Às vezes basta uma pedra
Para mudar a cor do rio,
Às vezes basta uma pedra
Para mudar o nome ao rio,
Às vezes basta uma pedra
Para mudar o rumo ao rio.
 
 

                       


 

SONO BREVE:


 

 

 

Dorme enquanto eu abro a sepultura

E quando acordares eu já ceei,

Rega bem o sonho com ternura

A enxada velha já lá vém.

 

 

Dorme na tua cama de linho

Poisa a tua coroa no jardim,

Quando ouvires o som da terra a abrir

Sabes que dormiste bem assim

Sabes que dormiste sempre assim.

 


 

 
 

 
DOCE RAQUEL:

 

 

Raquel doce Raquel

Senhora do meu destino,

As velas estão remendadas

Será que estás no moinho?

 

 

Onde andaste tu soldado

Por que guerras? Por que estragos?

Adormecido nas orlas

Dos jardins envenenados.

 

 

Raquel doce Raquel

As torres estão vigiadas,

Há guardas onde passei

As estradas estão arrancadas.

 

 

Onde andaste saltimbanco

Que não me ouviste a crescer,

Essas velas remendadas

Outro alguém as fez mover.
 



SOLDADO:
 
 
 
 
 
                          Ah,como eu queria ser soldado
                          Fazer filhos no Iraque,
                          Poder ser condecorado
                          Por ter morrido em combate.
 
 
                          Ah,eu nasci para ser soldado
                          Ir-me embora desta terra,
                          Com a espingarda ao meu lado
                          Com os olhos noutra guerra.
 
 
                          Ah,e quando a guerra acabar
                          Com a alma desgraçada,
                          Vou carregar novas armas
                          E voltar a ser soldado.
 
 

                        Ah,eu nasci para ser soldado
                          Ah,eu voltei para ser soldado.
 

 

 
MAL- ATADO:
 
 
 
 
                    
                        Tenho os dentes do siso
                        A crescer
                        É por isso que tu sentes
                        Que não consigo morder.
 
 
                        Tenho os dentes do siso
                        A rebentar,
                        É por isso que tu dizes
                        Que eu não consigo ladrar.
 
 
                        Deixaste-me a cela aberta
                        Deixaste-me mal atado.