sábado, 10 de dezembro de 2011

Do livro "Noticias do sangue"

A Raíz do Medo










Tenho grades.

Largas.

Prateadas como as tuas.



Tenho asas.

Mapas.

Com o esqueleto das luas.



Tenho garras.

Frias

Alimentando um dragão.



Tenho ferros,

Cordas,

E carris no coração.



Entretanto, sobro em tempo

Com a raíz da maldição.







03/12/1998


















Apresento-te às serpentes

Aos bosques e às hienas.

Apresento-te aos dragões

Que moram nos meus poemas







Apresento-te às lajes

Onde não existe um fim.

Enche teu corpo com lobos

Vais entrar dentro de mim.















18/10/1998
























Notícias do Sangue







Hei, tu aí!

Em frente ao espelho

Não ouves as luas

Nos olhos de um velho?

Não ouves os lobos

No lago doente?

Os loucos na rua

Chorando aguardente?

E tu, junto ao espelho,

Ficando indiferente!





E fazes a barba

Olhando p’ro lado,

Não vás ver os ossos

E o sangue de um escravo.

Não vás ver nos cortes

Os berços da guerra,

As luas de palha

Poemas de pedra.

Não sentes os dedos

Dos dias pisados?

Meninos de gelo

No céu, enforcados?

E tu, junto ao espelho

Matando cigarros.





Já sabes.

Que uns são noite

E outros poesia.

Uns são violência

E outros sangria.

E tu, junto ao espelho

À espera do dia.





Deixa estar os poemas

Essas coisas doentes,

Não vão crescer-te asas

E rosas nos dentes.

Permanece quieto

Cadáver de estanho

Um dia cinzento

Não morre vermelho;

E vá ...

Tenta outra vez

Nascer agarrado

À sombra de um estranho.









26/11/1998






























Os anjos do Tempo










Aonde iremos, nós, ó seres

Cinzentos, de olhos brandos?

Vamos na espuma dos dias

Arrastados pelos anos?

Ou seremos nós atrozes

Arrumadores de oceanos?

Só sei que os anjos do tempo

Ganham feições de tiranos.



Aonde iremos nós, ó seres,

Calados sem um olhar?

Será que o barco aonde vamos

É que nos faz navegar?

Em que porto é que ficámos?

Que corpo nos resta amar?

Só sei que os anjos do tempo

Prometeram não falar.





Aonde iremos nós ó seres,

Olhos vazios como poços?

Será que Deus acordou

E o que viu foram só ossos?

Ou será que até gostamos

De desenterrar destroços?

Só sei que os anjos do tempo

Juraram não serem nossos.















29/03/1998



As Bibliotecas dos Assassinos


Vivo nas bibliotecas dos assassinos

Entre os degraus do inferno

E os cadáveres de gelo e de neve.



Vivo entre os anjos nervosos e decepados

Celebrando festins inúteis

E imitando o Outono e a intolerância das bruxas.



Vivo nas olarias do egoísmo

Onde se confunde o deserto com as lágrimas,

As estrelas com o luto

Onde se pilham astros como se de cobre se tratasse.





Vivo na torre das cinzas.

Num arquipélago cego

Onde se bebe a memória com monstros

Nos palheiros do impossível e da doença.



Daí ...

Amar a lua ajoelhada nos matadouros.

Daí alugar os meus olhos

Às lajes vazias.

Daí ferir os Domingos

E beber veneno.

Daí assassinar os meus cavalos e cuspir amor.



Vivo nas bibliotecas dos assassinos

Entre os livros das chagas e os manuscritos do sangue

Entre o perfume das noivas virgens e frias

E a primeira viúva que criei

Entre o desastre iminente

De querer e não querer voltar do fim.

Por isso, piso os cabelos e as entranhas dos bosques,

Assalto e violo as filhas do entendimento,

Perfuro as carnes e as unhas

Com os últimos dias que restam.

Por isso, também eu me tornei um assassino.
















BARCAS NEGRAS DE OUTUBRO












Eu vim das barcas mais negras de Outubro

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