sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Natureza morta

Quando o pó da chuva cobrir as chagas

Quando os olhos não se acenderem

Quando o suor do macho

Deixar de se vir em sangue

E as ordens apodrecerem ...



Quando a terra-fêmea

Deixar de ser cavalgada.

De dar à luz nossos filhos.

Quando as perguntas

Ficarem penduradas

Nas sombras dos nossos trilhos.

Quando as garras da garganta

Se enterrarem na terra

E a voz das árvores cair.



Quando as veias de um chicote

Fossilizarem mentiras

E a mão errada se partir.



Quando a máquina do tempo

Respirar este veneno,

E nós despirmos a ferida.

Ficará aberta a estrada

Que nos conduz à entrada

Da natureza perdida?



1990

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