Uma vez eu quis ser livre.
Tinha tudo preparado.
Com a pressa de fugir
Entrei no combóio errado.
Pelos espelhos de fumo
Podia ver-me a fugir.
E, quando às vezes parava
Parava só p´ra me rir.
Uma vez eu quis ser livre.
E perguntei a um rei
Se me dava um ideal
Ou algo que ninguém tem.
Então deu-me um inimigo.
Disse-me que era um ideal
E que o devia enfrentar
Quer para o bem, quer para o mal.
Fui perguntar a um deus
O que era um ideal.
Não o achei em Paris
Nem mesmo no Bombarral.
Bati a todas as portas.
Fartei-me de o procurar.
Ninguém sabia onde estava.
Ninguém se parecia importar.
Uma vez eu quis ser livre
E crucifiquei-me sòzinho.
E, enquanto os monges dormiam
Levantei-me de mansinho
E fui até à janela.
Vi correr um homem só
E a morrer perto da Sé.
Um dos monges perguntou:
«Ainda anda alguém em pé?»
Guerra ou paz ...
De onde vens?
Vieste em nome de quem?
No esqueleto de um rapaz
A medalha do mal e do bem.
O reverso tinha sangue
E falava de tiranos.
Uma vez eu quis ser livre
Mas tinha setenta anos.
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