sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Liberdade

Uma vez eu quis ser livre.

Tinha tudo preparado.

Com a pressa de fugir

Entrei no combóio errado.

Pelos espelhos de fumo

Podia ver-me a fugir.

E, quando às vezes parava

Parava só p´ra me rir.



Uma vez eu quis ser livre.

E perguntei a um rei

Se me dava um ideal

Ou algo que ninguém tem.

Então deu-me um inimigo.

Disse-me que era um ideal

E que o devia enfrentar

Quer para o bem, quer para o mal.



Fui perguntar a um deus

O que era um ideal.

Não o achei em Paris

Nem mesmo no Bombarral.

Bati a todas as portas.

Fartei-me de o procurar.

Ninguém sabia onde estava.

Ninguém se parecia importar.



Uma vez eu quis ser livre

E crucifiquei-me sòzinho.

E, enquanto os monges dormiam

Levantei-me de mansinho

E fui até à janela.

Vi correr um homem só

E a morrer perto da Sé.

Um dos monges perguntou:

«Ainda anda alguém em pé?»



Guerra ou paz ...

De onde vens?

Vieste em nome de quem?

No esqueleto de um rapaz

A medalha do mal e do bem.

O reverso tinha sangue

E falava de tiranos.

Uma vez eu quis ser livre

Mas tinha setenta anos.




1989

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