sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Vozes da América

Sei de uma canção


Que fala da morte

E da compreensão.



Agora estou de volta

Não trouxe a canção

Mas trouxe as vozes da América.



Ouçam as vozes da América:



Hoje morreu um homem

Na letra de uma canção.

Foi inventado por mim

Morto pela minha mão.



Já viram que faço dele

Tudo o que me apetecer?

Posso pô-lo em liberdade,

Posso dar-lhe a minha idade

E até o posso abater.



Podia dar-lhe uma arma,

E mandá-lo combater.



Podia fazê-lo calar,

Mete-lo numa prisão

Até o poema acabar.

Posso rasgar o poema.

Fazer cair outro homem,

Gritar-lhe bem alto a canção

No quarto onde as bestas dormem



As feras andam soltas

P´la cidade.

Alguém as teme?

Alguém as prende?

Há alguém que está calado

Porque ninguém o entende?

Há alguém a construir

Na cidade uma cabana?

Já estou farto d´acordar

E pensar que estou na minha cama...



Ei,

Pensam que estou sòzinho?

Atrás da minha cabeça

Tenho escrito prisioneiro.

Alguém me solta?

Dá-me um convento?

Estou na terra de ninguém

A matar tudo o que é tempo.

A violência passou

Tal como passou o vento?

As notícias desta morte

Que é que as vai receber?



No meu caixão quero um espelho.

Quero ver.




1989

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